Igreja de Santiago

Igreja de Santiago

Igreja de Santiago foi edificada no início do século XIII, fora das muralhas do castelo, num período de aumento demográfico e de desenvolvimento da malha urbana da Vila de Almada. Desde então, o templo sofreu numerosas intervenções, acompanhando as mudanças de gosto e mentalidade de sucessivas gerações de almadenses.

Em 1724, a igreja foi “reedificada” segundo as indicações do padre e arquiteto régio Francisco Tinoco da Silva, a quem pode ser atribuído o desenho do portal e também o retábulo da capela-mor. Certamente influenciado pelas obras da Convento-Palácio de Mafra, este é composto com pedras calcárias de diferentes cores, diferenciando cada um dos elementos de arquitetura clássica. Felizmente, a intervenção do arquiteto Tinoco, patrocinada por D. António, irmão do rei D. João V, respeitou a abóbada de nervuras, pós-manuelina, que cobre a capela-mor, não interferindo também no corpo da nave, que manteve o revestimento integral de azulejos de padrão, da primeira metade do século XVII.

Santiago foi a igreja de Almada que menos sofreu com o terramoto de 1755. O prior da igreja, José Salgado de Araújo, nas Memórias Paroquiais de 1758, faz uma extensa descrição em que a classifica “de mediana grandeza, sem naves, toda de azulejo antigo, exceto o da capela-mor, que é moderno”. Os monumentais painéis da capela-mor, encomendados entre 1730 e 1740, descrevem dois momentos capitais da lenda do orago da freguesia, apresentando do lado da epístola a Trasladação do corpo de São Tiago e do lado do evangelho São Tiago combatendo os mouros na batalha de Clavijo. São um poderoso exemplo da capacidade da azulejaria em sugerir novas relações espaciais e transformar, assim, uma estrutura arquitetónica pré-existente.

Mas São Tiago não era a única devoção dos fregueses desta paróquia e a importância das festas realizadas por honra de São João Baptista justificava que, na primeira metade do século XVIII, as imagens desses dois santos estivessem colocadas no altar-mor. A capela colateral, do lado do evangelho, foi totalmente reconstruída no último quartel do século XVIII, passando a incluir um novo retábulo e azulejos rococó com pequenas cartelas com emblemas da paixão, provavelmente da Real Fábrica do Rato. Do lado oposto está a antiga capela de São Miguel, onde se conserva o brasão e a lápide funerária de Julião de Campos Barreto, fidalgo que ocupou diversos postos importantes na burocracia do Estado durante o reinado de Filipe III (II de Portugal, monarca entre 1598 e 1621), sendo responsável, por exemplo, pelo controlo das finanças das possessões ultramarinas, como vedor da fazenda do Estado da Índia.

Apesar da construção da nova igreja de Almada, Santiago continua aberta ao culto, servindo também de apoio a uma associação de assistência social.

Da igreja de Santiago sai, no dia 23 de Junho, a procissão de São João Baptista (padroeiro de Almada) em direção à Ramalha, onde a imagem do santo fica até ao dia seguinte na capela de Santo Antão, anexa à quinta de São João da Ramalha. No dia 24, regressa ao local de origem trazendo uma coroa de frutos e associando esta celebração com a fertilidade agrícola da região. Às festas e romarias em Almada acorriam gentes dos arredores e mesmo de Lisboa. Até à década de setenta a mais famosa era precisamente a romaria à Ramalha, popularmente conhecida como procissão dos bêbedos, que se realizava no dia 25 de Junho, na sequência das festas de S. João.
in “Almada e o Tejo”, Centro de Arqueologia de Almada (1999)

Largo 1º de Maio

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