Sessão Solene Comemorativa do 25 de Abril

Sessão Solene Comemorativa do 25 de Abril

A sessão comemorativa dos 50 anos do 25 de abril, organizada pela Assembleia de Freguesia, foi celebrada no dia 23 na Sala Pablo Neruda, no Fórum Romeu Correia, em Almada.

Os membros da Assembleia de Freguesia (AF) e do executivo da União das Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas, bem como convidados e representantes de Instituições e Associações, compuseram a sala.

Na mesa, os presidentes da AF e do executivo da União das Freguesias e a convidada de honra, a ativista e cantora de intervenção, Luísa Basto, a última a intervir. Falou sobre o seu percurso de vida, experimentada na clandestinidade ainda criança, com os pais.

A programação do evento comemorativo incluiu dois expressivos momentos culturais. A leitura de dois poemas, declamados por Gisela Barroso. Seguiu-se um momento musical com a interpretação de três canções de intervenção por Ruben Martins, que culminou com a execução da música “Grândola, Vila Morena”, cantada em coro pelos presentes.

Partilhamos os poemas:

25 DE ABRIL
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sofia de Mello Breyner, 1974

REVOLUÇÃO
Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta. Elas gritaram à vizinha que era fascista. Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas. Elas vieram para a rua de encarnado. Eles foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água. Elas gritaram muito. Elas encheram as ruas de cravos. Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes. Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua. Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo. Elas ouviram faltar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas. Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra. Elas choraram de ver o pai a guerrear com o filho. Elas tiveram medo e foram e não foram. Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas. Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro urna cruzinha laboriosa. Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões. Elas levantaram o braço nas grandes assembleias. Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos. Elas disseram à mãe, segure-me aqui os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é. Elas vieram dos arrebaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada. Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão. Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens. Elas iam e não sabiam para aonde, mas que iam. Elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado. São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.

Maria Velho da Costa, 1975

Músicas interpretadas:
Cantar Alentejano, de Zeca Afonso
Ronda do Soldadinho, de José Mário Branco
Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso

Veja a sessão:
www.youtube.com/watch?v=khoJFcsF1tw